Ricardo Aleixo assina novo título da coleção “BH. A Cidade de Cada Um”, que enfoca o bairro Campo Alegre
Indicado ao “Prêmio Jabuti 2022", Aleixo traz bela colagem de gêneros literários no livro que reverencia seu bairro de infância, onde ainda hoje mantém residência e ateliê; lançamento acontece no dia 10/12, sábado, na Livraria Outlet de Livro
“Eu inventei o Campo Alegre como Manuel Bandeira inventou Pasárgada, Jorge Amado cartografou Salvador (com trilha sonora de Dorival Caymmi), Luiz Gonzaga redesenhou o sertão”. É neste patamar impecável, nutrido por uma poesia nata, que o poeta e artista intermídia mineiro Ricardo Aleixo descreve Campo Alegre. Indicado ao “Prêmio Jabuti” deste ano, Aleixo vive desde moleque no bairro da Região Norte de Belo Horizonte, que agora é reverenciado no 37º título da coleção “BH. A Cidade de Cada Um”. Dedicado abordar contextos históricos e socioculturais de bairros, espaços e personalidades da capital mineira em registros literários afetivos, o projeto é realizado há 18 anos pela Conceito Editorial. Esta edição foi viabilizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e conta com patrocínio da empresa MGS. O novo volume da coleção será lançado no dia 10/12, sábado, das 11h às 14h, na Livraria Outlet de Livro.
Situado ao lado dos bairros Itapoã e Planalto, Campo Alegre é um conjunto habitacional periférico. Fundado na década de 1970, com casas erguidas por trabalhadores, ainda hoje é pouco conhecido na capital. Motivo suficiente para integrar a heterogênea coleção “BH. A Cidade de Cada Um”: “Há muito, venho tentando ampliar a capilaridade da coleção, fazendo com que ela olhe para espaços fora da zona central da capital, locais periféricos e pouco retratados. Eu amei a oportunidade de falar de um lugar que eu mesmo, confesso, desconhecia. A coleção já entendeu que precisa refletir, cada vez mais, a diversidade e a pluralidade da cidade”, diz José Eduardo, um dos idealizadores de “BH. A Cidade de Cada Um”, junto com Sílvia Rubião.
Ao ler Ricardo Aleixo, o leitor entende que Campo Alegre não é lugar comparável. O bairro é, simplesmente, o seu “melhor lugar no mundo”: uma definição axiomática que o artista requisitado em alguns dos maiores eventos literários do país e do mundo leva ao pé da letra. “Viajo para tudo quanto é canto, no Brasil e no mundo inteiro, e quero sempre retornar ao Campo Alegre. É certo que eu não seria a pessoa e o artista que sou se não tivesse vindo para cá aos 9 anos de idade. O Campo Alegre me nutre de tudo o que preciso para ser feliz”, diz Aleixo, que mantém residência e ateliê no bairro.
A devoção de Ricardo Aleixo por seu bairro do coração é o combustível principal do livro. Uma das grandes belezas da obra está em fugir de narrativas essencialmente historiográficas sobre pessoas, hábitos e memórias. Ao contrário desse padrão, “Campo Alegre” contempla inúmeras interpretações sobre o que chamamos de realidade, ao passo em que também provoca infindáveis hipóteses sobre o que é viver bem em um lugar de nome tão sugestivo. “Veja: não me ative à ‘realidade de um local’. São inúmeras as camadas do real, quando se fala de uma pessoa, de um afeto, de um bicho, de uma planta, de um lugar ou do mundo inteiro. Foi com essa matéria riquíssima que eu procurei dialogar”, justifica Aleixo, com a poesia entrelaçada nas palavras que escolhe para falar sobre tudo.
Com 160 páginas, a publicação apresenta uma escrita fluida e altamente experimental de Ricardo Aleixo, como é praxe de sua inquietude literária. Conhecido pela pena de poeta afiada e atenta ao mundo, o artista destrincha poesia por todas as páginas de “Campo Alegre”, e ora passeia por entrevistas curiosas, ora descreve documentos oficiais, ora escreve como se cultivasse um diário, criasse um conto ou rascunhasse um poema. Afinal, "a poesia está em tudo", como atesta Manuel Bandeira.
“É importante ressaltar que o Ricardo escreveu um livro em diálogo com a comunidade. Estão ali muitas pessoas e suas histórias. Nesse sentido, é um livro generoso, que se abre a muitas vozes. O tempo inteiro eu leio o Ricardo nesse texto, mas ele também é um coletivo, como se ele fosse plural, reunindo em si todos os que ajudaram a formar o seu olhar para o bairro que ele amorosamente nos apresenta”, completa José Eduardo.
Sobre Ricardo Aleixo
Natural de Belo Horizonte, Ricardo Aleixo é artista poeta, intermídia, pesquisador e professor. Acumula 15 livros publicados, entre eles, “Modelos Vivos” (Crisálida, 2010), e o mais recente, “Extraquadro” (Impressões de Minas, 2021), indicado ao “Prêmio Jabuti 2022” na categoria “Poesia”. Recentemente foi reconhecido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com o título de Notório Saber em Letras: Literatura, equivalente ao grau de doutor. Aleixo tem obras nas mostras permanentes “Praça da Língua e Falares”, no Museu da Língua Portuguesa (SP). Suas criações mesclam poesia, prosa ficcional, filosofia, etnopoética, antropologia, história, música, radioarte, artes visuais, vídeo, dança, teatro, performance e estudos urbanos. Já realizou performances em quase todo o Brasil e nos seguintes países: Argentina, Alemanha, Portugal, Estados Unidos, Espanha, México, França e Suíça.
“BH. A Cidade de Cada Um”
Desde setembro de 2004, a coleção "BH. A Cidade de Cada Um" vem, através da Conceito Editorial, construindo a memória afetiva da cidade por meio de publicações literárias escritas por pessoas de diversas gerações, escolhidas por sua grande identificação com os temas trabalhados. A lista inclui desde escritores, como Wander Piroli – e, agora, Ricardo Aleixo –, até o cronista e letrista Fernando Brant e a historiadora Heloísa Starling. Tendo como ponto de partida suas vivências pessoais, os autores falam sobre bairros, lugares, fatos e personagens diversos, sem o compromisso de se prenderem à história oficial, gerando grande empatia entre os moradores e admiradores da cidade.
Também fazem parte da coleção os seguintes 36 títulos: “Lagoinha”, de Wander Piroli; “Mercado Central”, de Fernando Brant; “Estádio Independência”, de Jairo Anatólio Lima; “Rua da Bahia”, de José Bento Teixeira de Salle; “Fafich”, de Clara Arreguy; “Parque Municipal”, de Ronaldo Guimarães; “Praça Sete”, de Angelo Oswaldo de Araújo Santos; “Livraria Amadeu”, de João Antonio de Paula; “Sagrada Família”, de Manoel Lobato; “Pampulha”, de Flávio Carsalade; “Cine Pathé”, de Celina Albano; “Caiçara”, de Jorge Fernando dos Santos; “Carmo”, de Alberto Villas e “Lourdes”, de Lucia Helena Monteiro Machado; “Colégio Sacré Coeur de Marie”, de Marilene Guzella Martins Lemos; “Carlos Prates”, de Humberto Pereira; “Morro do Papagaio”, de Márcia Cruz; “Maletta”, de Paulinho Assunção; “Montanhez”, de Márcio Rubens Prado; “Santa Tereza”, de Libério Neves; “Serra”, de Nereide Beirão; “Padre Eustáquio”, de Jeferson de Andrade; “Centro”, de Antonio Barreto; “Mineirão”, de Tião Martins; “Colégio Estadual”, de Renato Moraes; “Santo Antônio”, de Eliane Marta Teixeira Lopes; “Viaduto Santa Tereza”, de João Perdigão; “Funcionários”, de Maria do Carmo Brandão; “Colégio Municipal”, de José Alberto Barreto; “Renascença”, de Ana Elisa Ribeiro; “Anchieta”, de José Márcio Vianna; “Campus da UFMG”, de Heloísa Murgel Starling; “Arraial do Curral del Rey”, de Adriane Garcia; “Venda Nova”, de Bruno Viveiros e “Barro Preto”, de Chico Brant.
SERVIÇO
Lançamento "BH. A Cidade de Cada Um – Campo Alegre" (Ricardo Aleixo)
Quando. Dia 10/12, sábado, das 11h às 14h
Onde. Livraria Outlet de Livro (Rua Paraíba, 1.419 – Savassi)
Quanto. Entrada franca | O livro estará à venda por R$40,00
Livro. Conceito Editorial | 160 páginas
Mais. www.bhdecadaum.com.br
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